terça-feira, 7 de agosto de 2007

Não basta vender ações: tem de destruir mesmo.

A tese neoliberal abraçada e defendida com unhas e dentes por muitos de nosso governantes prega que o estado tem de ser mínimo e que empresas estatais são ineficientes por estarem emperradas pelo burocratismo do serviço público. Esse não era o caso do Banrisul, um banco com um caráter eminentemente social porque recebe folhas de pagamentos dos máis diversos níveis sócio-econômicos. E, para desgosto dos neoliberais de plantão, é um banco eficiente e que dá lucro.

Não bastasse a venda de 49% das ações do banco, o valor, em grande parte será destinado para tapar o poço sem fundo das contas do estado. Esta á a primeira sangria que a Yeda está cometendo contra um patrimõnio público. A segunda é a venda de folhas de pagamento para bancos privados. Com certeza isso acarretará prejuízos incontáveis para todos. Para o correntista, que será literalmente jogado em tarifas bancárias astronômicas e, dependendo da localidade, não terá nem como retirar seu dinheiro pela inexistência de agências dos bancos privados. Isso é só um ponto. A cadeia de conseqüências é muito maior.

Para reflexão segue, abaixo, a cópia da matéria publicada no site do Sindicado dos Bancários de Carazinho e Regiâo:


23/07/2007

- LEILÃO DE FOLHAS DE PREFEITURAS PREJUDICA BANCOS PÚBLICOS


Fonte: Jornal do Comércio

Publicado em: 23/7/2007 - 11:36

A perversa prática de leilão das folhas de pagamento, feita por várias prefeituras, inclusive Porto Alegre, para bancos privados ganhou as páginas do Jornal do Comércio. A reportagem, que é chamada de capa da edição desta segunda-feira, dia 23, relata a triste realidade que tomou conta do Estado.

Não é só o Banrisul e demais bancos públicos que têm prejuízos com o leilão das folhas de pagamento das prefeituras para os bancos privados. A medida, além de enfraquecer as instituições estaduais e federais, causa perdas significativas nos salários do funcionalismo em função das altas taxas de juros e tarifas cobradas pelos banqueiros.

O Sindicato dos Bancários está em contato com representantes dos servidores públicos dos municípios gaúchos para alertar sobre o fato e discutir medidas que coibam essa prática lesiva. Uma delas é buscar o debate, por meio dos Comitês Regionais em Defesa do Banrisul – instalados em quase 40 cidades - , junto às Câmaras de Vereadores para ver o que pode ser feito em termos de legislação específica.

"O Sindicato adverte que este é o momento em que o Banrisul mais precisa de união de forças em defesa de seu caráter público, e não de um procedimento nocivo como o que está sendo adotado".

Todos os esforços estão sendo feitos para que o Banrisul permaneça nas mãos Estado, sem a interferência direta de investidores privados, o que pode acontecer com a venda de ações que a governadora Yeda Crusius pretende concluir até o final de julho. "Na ânsia de arrecadar recursos, as prefeituras adotam essa postura e prejudicam o Banrisul, que tem prestado esse serviço há muitos anos na maioria dos municípios, e seus próprios funcionários", ressalta Fabinho.

Confira a íntegra da notícia do Jornal do Comércio:

BANCOS DISPUTAM SALÁRIO DO SERVIDOR PÚBLICO

Por Cristiano Vieira

Antes clientes de bancos estatais, funcionários públicos municipais de diversas cidades gaúchas estão mudando de rotina, com o recebimento dos salários em instituições privadas. A Carris, empresa de transporte urbano de Porto Alegre, também aderiu ao movimento e escolheu o
Santander como destino do pagamento mensal de 1,6 mil funcionários. A prefeitura de Torres também acaba de bater o martelo pelo Santander: a folha de pagamento dos servidores saiu por R$ 1,950 milhão.

No Rio Grande do Sul, a tendência começou há menos de quatro anos. Desde 2004, conforme o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), 20 municípios, como Santa Maria, Canoas, Gravataí e Novo Hamburgo, já realizaram licitações nas quais os vencedores são bancos privados. Outros 11, segundo a instituição, estão na fila. Entre eles, Canela e Montenegro.

A jóia da coroa é a prefeitura de Porto Alegre, que gasta mensalmente R$ 93 milhões com a folha de 33 mil servidores, incluindo ativos, inativos e pensionistas. Atualmente, conforme a Secretaria Municipal da Fazenda (SMF), Banrisul (50%), Banco do Brasil (20%) e Caixa Econômica Federal (13%) concentram os depósitos. A SMF informou que estuda licitar a folha da Capital, mas ainda não há nada decidido.

A questão tem gerado discussões jurídicas a respeito da legalidade do procedimento. O artigo 164 da Constituição, no parágrafo terceiro, determina que as disponibilidades de caixa dos estados, dos municípios e dos demais órgãos ou entidades do poder público sejam depositadas em instituições financeiras oficiais. Este é o argumento defendido pela Procuradoria-Geral do Ministério Público de Contas do Estado.

Em 2005, o procurador-geral do MP de Contas, Cézar Miola, ajuizou uma representação junto ao Tribunal pedindo a suspensão da prática, evocando o artigo 164. A decisão foi favorável ao MP e, desde então, o TCE-RS tem se posicionado contra os leilões da folha. Contudo, o procurador-geral substituto do Ministério Público de Contas, Geraldo Costa da Camino, explica que são utilizadas manobras legais no processo.

As prefeituras abrem editais de licitação direcionados para os bancos públicos, como a lei determina. "Os privados conseguem liminares favoráveis na Justiça para participar dos leilões e acabam vencendo", explica Camino, porque os bancos estatais se recusam a concorrer para
não legitimar uma situação que consideram ilegal.

Nas liminares concedidas, em diversos casos os bancos privados alegam que as licitações desobedecem ao princípio da competitividade, por exemplo, e que o artigo 164 da Constituição não se aplicaria ao dinheiro referente às folhas de pagamento. Camino discorda: conforme o
procurador, "enquanto o pagamento não entrar na conta do servidor, ele é considerado disponibilidade pública, sim".

Os gestores municipais não enxergam nenhuma ilegalidade no procedimento. Em Uruguaiana, o Bradesco comprou por R$ 5,1 milhões o direito de gerenciar os salários de 2,15 mil servidores por um período de cinco anos. "Os bancos oficiais participaram, mas não deram lance. O dinheiro obtido irá reforçar o caixa da prefeitura", explica Sanchotene Felice, prefeito de Uruguaiana, salientando que as verbas oficiais do município continuam depositadas em bancos públicos, somente a folha será direcionada para o Bradesco.

O diretor-presidente da Carris, Antonio Lorenzi, disse que foi aberta uma licitação porque o prazo de cinco anos dado ao Banrisul para receber os salários expirou e não havia possibilidade de renovação. "Fizemos uma licitação para os bancos públicos. Nenhum compareceu, somente dois privados, mediante liminar", afirmou Lorenzi, completando que o Santander desembolsou R$ 3,45 milhões para receber os salários dos colaboradores da Carris.


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